quinta-feira, 24 de março de 2011

POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO DA EDUCAÇÃO


POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO DA EDUCAÇÃO
OLIVO, Fabíola – PUCPR
fabiola.olivo@hotmail.com
OLIVO, Fabrício Gabriel – PUCPR
fgolivo@hotmail.com
ALBA, Graciela Olivo – PUCPR
graolivo@hotmail.com
OLIVO FILHO, Pedro – PUCPR
pedrolivofi@pop.com.br
Eixo Temático: Políticas e práticas educacionais: desafios da aprendizagem
Resumo
Este artigo tem como objeto de estudo abordar as políticas públicas e gestão da educação no
campo dos movimentos sociais do MST no Brasil. Partindo desse tema, chegou-se a
problemática de pesquisa que se concentra no seguinte questionamento: Como se configuram
as políticas públicas e a gestão da educação na educação no campo? Buscou-se como objetivo
geral a analise das características da proposta político pedagógicas do movimento do MST no
Brasil. E como objetivo específico identificar as características da proposta política
pedagógica no movimento do MST no Brasil. Com políticas públicas adequadas e lideranças
hábeis na gestão da educação, acredita possível agilizar etapas na construção de um Brasil
mais igualitário. O desenvolvimento parte da consciência das lideranças políticas e do público
em geral sobre a importância do uso estratégico das leis, para o benefício do coletivo e para
acelerar o desenvolvimento socioeconômico do país. Para Arroyo, Caldart e Molina (2004a,
p.10) “As políticas educacionais no Brasil padecem de uma indefinição de rumos”. Algumas
políticas públicas educacionais se expressam por ações governamentais, conhecidas como
ações afirmativas, outras por força de movimentos sociais. De acordo com Arroyo, Caldart e
Molina (2004a, p. 49) “Estamos entendendo por políticas públicas os conjuntos de ações
resultantes do processo de institucionalização de demandas coletivas, construído pela
intervenção Estado/Sociedade”. Trata-se da importância dessas políticas públicas
educacionais com a faceta de assentamentos para o desenvolvimento social do Brasil. O
estudo tomou como referência: Freire (1974), Caldart (2004), Martins (2004b), Boneti (2006),
dentre outros. Como metodologia, realizou-se uma pesquisa bibliográfica. O trabalho tem
como estrutura, além da introdução, desenvolvimento e conclusão. Assim, o artigo
demonstrou aspectos que evidenciam a importância de se trabalhar o tema em prol do
banimento do cerceamento dos direitos sociais de acesso a cidadania via educação no campo.
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Palavras-chave: Políticas públicas. Gestão da educação. Educação no campo.
Introdução
A intenção neste estudo foi realizar uma abordagem sobre as políticas públicas e
gestão educacionais e as de assentamento do MST, no Brasil, com exposição de autores como
Caldart (2004a), Martins (2004a), Souza (2006) e Boneti (2006).
Com políticas públicas e gestão da educação adequada e lideranças hábeis, se acredita
ser possível agilizar etapas na construção de um Brasil mais igualitário. O desenvolvimento
parte da consciência das lideranças políticas e do público em geral sobre a importância do uso
estratégico das leis, para o benefício do coletivo e para acelerar o desenvolvimento
socioeconômico do país. Para Arroyo, Caldart e Molina (2004a, p.10) “As políticas
educacionais no Brasil padecem de uma indefinição de rumos”.
Algumas políticas públicas e gestões educacionais se expressam por ações
governamentais, conhecidas como ações afirmativas, outras por força de movimentos sociais.
De acordo com Arroyo, Caldart e Molina (2004a, p. 49) “Estamos entendendo por políticas
públicas os conjuntos de ações resultantes do processo de institucionalização de demandas
coletivas, construído pela intervenção Estado/Sociedade”. Neste estudo, trata-se da
importância dessas políticas públicas educacionais com a faceta de assentamentos,
principalmente para o desenvolvimento social do Brasil. Neste sentido, elucida Arroyo,
Caldart e Molina (2004a, p.10)
A escola no meio rural passou a ser tratada como resíduo do sistema educacional
brasileiro e, conseqüentemente, à população do campo foi negado o acesso aos
avanços havidos nas duas décadas no reconhecimento e garantia do direito à
educação básica.
Deste modo, quando autores como Arroyo, Caldart e Molina (2004a, p.7) avançam
dizendo que “A construção do direito à educação sempre acompanhou a construção da
sociedade e dos seus sujeitos que se constroem construindo-a” e nos últimos anos vem-se
desenvolvendo e legitimando o meio rural como território que comporta diversas relações
sociais.
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Destaca-se compreender o jogo de forças entre as políticas públicas educacionais, que
amplia o tema para especificamente políticas públicas, muitas vezes quando da ausência
dessas, grupos sociais se reúnem acerca de um mesmo propósito para um bem comum. Como
dizia Brym (2006) que a ação coletiva pode resultar na criação de uma ou mais organização
formal ou burocracia a fim de direcionar e ampliar os objetivos de seus membros. A
institucionalização de protestos dá margem ao estabelecimento de um movimento social.
Cabe lembrar que, nesta direção, Arroyo, Caldart e Molina (2004a, p. 8) “O rural teria
perdido consistência histórica e social? O povo do campo seria uma espécie em extinção? O
fim do rural, uma conseqüência inevitável da modernização? A escola do campo teria que ser
apenas um remedo da escola da cidade?”,
Por que a educação da população do campo foi esquecida? Um dado que exige
explicação; “somente 2% das pesquisas dizem respeito a questões do campo, não
chegando a 1% as que tratam especificamente da educação escolar no meio rural.
(ARROYO, CALDART, MOLINA, 2004a, p. 8).
Diante desta afirmação, “Os textos que refletem este debate, [...] interrogam a
consciência social de pedagogos, docentes, pesquisadores e formuladores de políticas; e de
governos, a quem cabe a responsabilidade constitucional de garantir o direito de todos à
educação” (ARROYO, CALDART, MOLINA, 2004a, p 10). Acredita o MST que a reforma
agrária está sendo feita de maneira lenta no Paraná. A reforma urbana também discutida,
embora seja menos conhecida que sua irmã rural, a luta pela melhor distribuição das áreas nas
cidades está tomando corpo e ganhando o apoio de novas instituições. Por fim, termina este
capítulo com a exposição do MST no mundo e como norteador o Estado do Paraná. Como
afirma Brym (2006, p. 497)
As pessoas estão mais propensas a se rebelar contra condições existentes quando
laços sociais fortes as ligam a muitas outras pessoas que se sentem igualmente
injustiçadas, quando tem tempo, dinheiro e outros recursos necessários para
protestar e quando as estruturas e os processos políticos oferecem oportunidades
para expressar seu descontentamento.
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Diante dessa visão, o MST nota uma mobilização ideológica para desacreditar no
Plano Nacional de Reforma Agrária, inclusive no governo, já que discorda dos números
apresentados até agora, uma vez que entende que a reforma agrária está paralisada,
transformando num mero programa de assentamentos. De acordo com Arroyo, Caldart e
Molina (2004a, p.14)
Em defesa de Políticas Públicas de Educação do Campo. Os movimentos sociais
carregam bandeiras da luta popular pela escola pública como direito social e
humano e como dever do Estado. Nas últimas décadas os movimentos sociais vêm
pressionando o Estado e os diversos entes administrativos a assumir sua
responsabilidade no dever de garantir escolas, profissionais, recursos e políticas
educativas capazes de configurar a especificidade da Educação do Campo. No
vazio e na ausência dos governos os próprios movimentos tentam ocupar esses
espaços, mas cada vez mais cresce a consciência do direito e a luta pela Educação
do Campo como política pública.
Assim, cabe ressaltar que as políticas públicas de educação, ajudam a reforma agrária
incluir também uma política pública de incentivo e infra-estrutura para que os assentados
consigam se inserir no mercado e adquiram padrões sociais e culturais que os tornem autosuficientes,
sem depender eternamente do governo. O filósofo Denis Rosenfield, da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, autor de livros sobre os sem-terra e especialista
no tema, alerta que reforma agrária é uma coisa e sem-terra movidos pela política, outra.
Dentro desta política, explorar-se-á primeiramente o processo das políticas públicas de
assentamento e de educação do MST, a sua vivência política, visto que a palavra política por
si só permite inúmeros significados e normas específicas, e pode ser objeto dos mais diversos
estudos, faz-se necessária a exposição do significado para a presente pesquisa. A esse respeito
expõe Silva (2004, p. 1055)
Derivado do latim politice, procedente do grego politiké, forma feminina de
politikos, possui, na acepção jurídica, o mesmo sentido filosófico, em que é tido:
designa a ciência de bem governar um povo, constituído em Estado. Assim, é seu
objetivo estabelecer os princípios, que se mostrem indispensáveis à realização de
um governo, tanto mais perfeito, ao cumprimento de suas precípuas finalidades, em
melhor proveito dos governantes e governados.
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Sobreleva notar o autor que, a política, em seu sentido amplo e geral, é uma ciência
que tem como finalidade o cumprimento de um bom governo. Propõe o bem-estar dos
governados e de seus governantes, e, para que cumpra a sua finalidade, a política possui
normas que garantirão a prática dos seus objetivos. Neste sentido afirma Arroyo, Caldart e
Molina (2004a, p. 14)
Uma política pública que parta dos diferentes sujeitos do campo, do seu contexto,
sua cultura e seus valores, sua maneira de ver e de se relacionar com o tempo, a
terra, com o meio ambiente, seus modos de organizar a família, o trabalho, seus
modos de ser mulher, homem, criança, adolescente, jovem, adulto ou idoso; de seus
modos de ser e de se formar como humanos. Fazer do povo do campo e dos seus
processos de formação o ponto de partida para a formulação de políticas públicas
educativas significa garantir o caráter popular destas políticas e sua articulação com
um projeto de país e de campo.
Esta afirmação, além do que toca a política pública, que representa uma parte
específica das políticas, e, para a definição de qual será a política implantada na sociedade
contemporânea, há correlação de forças. Ou seja, há um jogo de poderes, de interesses entre
grupos econômicos e políticos, classes sociais e demais interessados. A esse respeito, leciona
Boneti (2006, p. 74)
Entende-se por políticas públicas o resultado da dinâmica do jogo de forças que se
estabelecem no âmbito das relações de poder, relações essas constituídas pelos
grupos econômicos e políticos, classes sociais e demais organizações da sociedade
civil. Tais relações determinam um conjunto de ações atribuídas à instituição
estatal, que provocam o direcionamento (e /ou o redirecionamento) dos rumos de
ações de intervenção administrativas do Estado na realidade social e/ou de
investimentos. Nesse caso, pode-se dizer que o Estado se apresenta apenas como
um agente repassador à sociedade civil das decisões saídas do âmbito da correlação
de forças travada entre os agentes do poder.
Neste contexto, para aferir a relevância ao assunto, os interesses são dos grupos
econômicos, políticos e classes sociais. O resultado dessa relação de forças é a ação que será
repassada pela máquina estatal à sociedade civil, por meio de políticas públicas. Entretanto,
percebe-se que as políticas públicas fazem parte do contexto geral. Assim, as políticas de
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governo estão contidas nas políticas públicas. Bernardo (2001, p. 49) explica a diferença entre
políticas públicas e políticas de governo, citando que as primeiras
São o contexto mais amplo de geração, seleção e implementação de políticas. Já as
políticas de governo são parte da primeira, ainda que possam ser consideradas sua
porção mais sistematizada e visível, ou seja, autônoma de governo em nome de
uma operação pública, mas não apenas estatal, do interesse público. (BERNARDO,
2001, p. 49)
Como já se analisou anteriormente, percebe-se que as políticas de governo são
programas criados para amparar a sociedade em geral, já que o que se pretende é de interesse
público. Entende-se que as políticas públicas são criadas para suprir algumas lacunas na
sociedade, algum fato ocorrido que necessita que o Estado determine a realização de
providências. Destarte,
As políticas públicas, em geral, são geradas a partir de um fato político (carências e
interesses) que o geram. Quando uma política pública atende uma carência da
realidade social que se institui num interesse comum, ela é gerada de um fato
político e ao mesmo tempo origina outro. (BONETI, 2006, p. 52 - 53).
Portanto, acredita-se que este outro fato político, de que trata o autor, é a intervenção
do Estado na sociedade, que necessita do auxílio deste para abrandar a carência manifestada.
Aliás, o problema é que nem sempre as políticas públicas são criadas para atender a interesses
da sociedade em geral. Desta forma, o Estado pode conceber um pretexto para se criar uma
política pública, principalmente visando a interesses particulares e com estratégias políticas.
Destaca Boneti (2006, p. 53) que
As políticas públicas, todavia, nem sempre tem como finalidade atender às
necessidades da população. Às vezes “cria-se” uma carência falsa para atender a
interesses particulares, de grupos econômicos, de categorias profissionais, etc., no
intuito de buscar a sua cumplicidade para a sustentação do sistema e/ou do grupo
governante.
Em consonância Bernardo (2001, p. 48) defende que
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As políticas públicas são a forma mais visível da operação concreta do interesse
coletivo, com suas diferenciações e segmentações internas. Elas expressam
escolhas diante das alternativas diferentes ou conflitantes de aplicação dos recursos
públicos.
Assim, de um modo geral, para o autor, o que prevalece na criação da política pública
é o interesse coletivo no momento da implantação das políticas. Em relação às políticas, elas
podem ser criadas e estabelecidas pelos mais variados interesses, como, por exemplo, visando
ao bem comum em assentada esfera, apontando a negócios de grupos dominantes, com
estratégias políticas, enfim. Explica Boneti (2006, p. 54) algumas possibilidades de criação
das políticas públicas
[...] podem ter a finalidade de apenas manter o grupo dominante no poder,
fortalecendo os regionais como estratégia de fortalecimento do grupo dominante
nacional. Um exemplo deste tipo de ação se deu, durante séculos, com as políticas
de amparo aos flagelados da seca do Nordeste do Brasil. [...] Uma política pública,
mesmo com finalidade de beneficiar o setor público, pode se constituir de uma
estratégia para beneficiar um setor da sociedade mediante a transferência de
recursos de outro setor. Por exemplo, uma política de financiamento, a longo prazo,
de maquinaria e implementos agrícolas (igual aquela implementada nas décadas de
70 e 80 pelo governo brasileiro) pode significar uma estratégia de fortalecimento do
setor industrial.
Sob este prisma, pode-se compreender que geralmente há alguma intenção por traz das
políticas públicas. Não, necessariamente, que esses ementários tenham que ser encarados
apenas no sentido pejorativo, como interesses particulares de grupos do poder, uma vez que
pode ser por diversos fatores benéficos. Neste sentido, assumem, pois, as políticas públicas,
resultados também de uma correlação de forças, formada por conflitos de interesses de
diferentes grupos, classes ou fração de classes sociais, como registra Poulanzas (2000, p. 137)
A política do Estado se estabelece assim por um processo efetivo de contradições
interestatais, e é precisamente por isso que, num primeiro nível à curto prazo, em
suma, do ponto de vista da fisiologia micropolítica, ela parece prodigiosamente
incoerente e caótica. Se uma determinada coerência se estabelece ao fim do
processo, a função de organização que cabe ao Estado é bem marcada por limites
estruturais.
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Ora, nesta direção, Boneti (2006, p. 15) explana que depende de alguns fatores, como:
“a-) os interesses da expansão do capitalismo internacionais explicitados pelas elites globais;
b-) os interesses originados no contexto nacional, os das classes dominantes e dos vários
segmentos que compõem a sociedade civil; e, c-) a instância do local”.
Nesse sentido, o autor apresenta fatores essenciais para a compreensão de uma política
pública. Esta, por sua vez, exige a necessidade de ser discutida e são os agentes de poder que
desempenham e determinam o grau de importância para a comunidade. No que se referem às
políticas públicas nacionais, os agentes de poder internacional contam com amplo poder de
intervenção, como bem lembra Boneti (2006, p. 59)
Um dos importantes agente definidores das políticas públicas nacionais são as elites
internacionais. Isto é, entende-se que existe uma correlação de forças no plano
global (internacional) que interfere na definição das políticas públicas nacionais.
Portanto, além das influências dos grupos internacionais, sobretudo ao que se refere à
ampliação do capitalismo, fenômeno global, existem igualmente os interesses das diversas
classes e segmentos nacionais e por último a base local. Os efeitos dessa intervenção, por
conseguinte, irão interferir diretamente na população brasileira.
Com efeito, sobretudo do ponto de vista de algumas políticas públicas que se
expressam por ações governamentais conhecidas hodiernamente como ações afirmativas. O
Brasil e, principalmente o exterior, no que diz respeito à educação, começaram com a
cobrança de critérios mais justos e igualitários de acesso das pessoas às instituições de
educação. Isso considerando a desigualdade encontrada neste setor, educação.
De tal modo, foram instituídas ações afirmativas para a educação, que podem ser
políticas públicas ou privadas. No entanto, esta pesquisa trata somente das políticas públicas
criadas pelo Governo Federal que tendem a assentar famílias do MST e diminuir a
desigualdade social de pessoas de baixa renda, aqueles menos afortunados que estudaram em
escolas públicas.
As discussões empreendidas nesta pesquisa fazem refletir e assumir uma
responsabilidade cívica e ética de transmitir à nação as lições de longa experiência humana
que constroem ações afirmativas para a melhoria do país. Uma vez que, a biografia dos
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movimentos sociais, como a do MST, é a história da luta para a aquisição de direitos cada vez
mais amplos, assim como de oposição a essas lutas. Conforme Brym (2006, p. 518) “o ponto
central desse discurso é afirmar que o Estado, ao promover a desapropriação das terras,
fortalece movimentos sociais como o MST, percebido como parte do conflito”.
Hodiernamente, muito se discute em torno das ações do Governo Federal e da
comunidade civil, que não se dará de imediato essa redução da desigualdade. Há a
necessidade de pelo menos uma década, de efetiva prática das políticas públicas para se
chegar ao resultado desejado. Como afirma Miguel (1999, p. 92 apud FARIA FILHO) “O
significado de ‘educação pública’ no período imperial brasileiro não tinha a conotação de
educação popular, enquanto instrumento necessário (...) para a formação da cidadania e
construção da nacionalidade”. Neste particular Behrens (2006, p.15) “Acredita que o maior
desafio será restaurar a consciência da humanidade no sentido de agregar a identidade
individual e a identidade complexa dos seres humanos”.
Dessa forma, reverteria o brocardo pessimista das políticas públicas, já que o Brasil
tinha, até 1988, um histórico muito perverso acerca do respeito ao MST. De certa forma, com
algumas lutas e conquistas na educação do campo está se vivendo situação parecida com há
de vinte anos atrás. Diante de que, na raiz do processo está um amplo trabalho de luta pela
terra e educação, mobilização das comunidades que é feito por movimentos peculiares a fim
de reduzir a desigualdade social. Todavia, o que se tem percebido é que com o passar do
tempo o cenário de problemas parece ser o mesmo. De tal modo que as ações afirmativas são
para Gomes (2001, p. 40)
Um conjunto de políticas públicas e privadas de caráter compulsório, facultativo ou
voluntário, concebidas com vista ao combate a discriminação racial, de gênero, por
deficiência física e de origem nacional, bem como para corrigir ou mitigar os
efeitos presentes da discriminação praticada no passado, tendo por objetivo a
concretização do ideal da efetiva igualdade de acesso a bens fundamentais como
educação e emprego.
Essas ações afirmativas pode-se dizer que buscam, de certa maneira, ajustar
oportunidades para pessoas que foram injustamente cerceadas de exercer seus direitos
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fundamentais, por meio do princípio da igualdade. Ou seja, tratamento igualitário, acesso aos
níveis de educação de qualidade.
Nessa perspectiva, percebe-se que é basilar a construção de políticas de inclusão para
o reconhecimento da diferença e para desencadear uma insurreição conceitual, que conceba
uma sociedade em que todos devam participar, com direitos de igualdade e de acordo com
suas características adequadas. Ora, se efetivamente hoje se vê este ideal humanitário
ganhando uma dimensão muito grande em todas as áreas da sociedade. O que faz perceber
que é preciso tornar as coisas acessíveis a todos, sem descartar ninguém, por questão
humanitária, de respeito a todas as pessoas. Assim, Arroyo, Caldart e Molina (2004a, p. 15)
comentam
Esta visão do campo como um espaço que tem suas particularidades e que é ao
mesmo tempo um campo de possibilidades da relação dos seres humanos com a
produção das condições de sua existência social, confere à Educação do Campo o
papel de fomentar reflexões sobre um novo projeto de desenvolvimento e o papel
do campo neste projeto. Também o papel de fortalecer a identidade e autonomia
das populações do campo e ajudar o povo brasileiro a compreender que não há uma
hierarquia, mas uma complementaridade: cidade não vive sem o campo que não
vive sem cidade.
Neste âmbito, há uma terceira via que é a da subsidiariedade, principalmente com a
política dos cinturões verdes. Entre vários outros temas relevantes, faz-se referência sobre a
importância da introdução das ações afirmativas que Gomes (2001, p. 38) articula em relação
à mudança de postura estatal, que, em nome de uma suposta neutralidade, aplicava suas
políticas governamentais indistintamente, ignorando o sexo, cor e raça (conforme “caput” do
artigo 5° da constituição Federal).
De tal modo, deve-se atentar que o Estado vem dedicando uma proteção aos grupos
socialmente vulneráveis como as minorias étnicas e sociais com políticas públicas
educacionais tendem “a promover sua ascensão na sociedade até um nível de equiparação
com os demais, e objetivam acelerar o processo de igualdade”. (PIOVESAN, 2002, p. 190).
Basicamente, parece acertada a maneira comparativa que Medeiros (2002, p. 135) usa para
anunciar de maneira bastante esclarecedora o significado e a importância das políticas de
ações afirmativas para as pessoas consideradas excluídas de qualquer tipo de ensino
1441
Imaginem dois corredores, um amarrado e o outro solto. É claro que o corredor
solto ganha sempre. Mas um dia a platéia dessa competição imaginária chega à
conclusão de que essa situação é injusta. À custa de muita pressão, consegue-se
convencer os organizadores a cortar as cordas que prendiam um dos corredores. Só
que ele continua perdendo. Motivo: seus músculos estão atrofiados pela falta de
treinamento.
Desta forma, considerando-se as políticas públicas para assegurar de modo efetivo o
exercício de base educacional, sendo de qualidade, transcorrendo todas as instâncias, como:
Ensino Fundamental, Médio, e Superior, porquanto dessa forma ter-se-á uma sociedade mais
justa e igualitária, no âmbito social e econômico. Outra observação importante jaz no fato de
serem as instituições de ensino, sobretudo as principais responsáveis formadoras de cidadãos
competitivos e concorrentes para o mundo do trabalho, e principalmente para o
desenvolvimento econômico e social de um país.
Para tanto, percebe-se que não há como negar que o desenvolvimento do país é
diretamente proporcional ao desenvolvimento educacional. E, é relevante mencionar que, o
desenvolvimento social e econômico de um país, apresenta como conseqüência direta a
diminuição das desigualdades entre os cidadãos. Tendo em vista Martins (2004b, p. 38),
Entende-se que cabe ao Estado a responsabilidade pela manutenção da escola
pública em sua totalidade (acesso, permanência, qualidade), e cabe à comunidade
escolar sua gestão. Isso quer dizer (discordando de Althusser), que a escola não é
(ao menos não deveria ser) um aparelho do Estado, mas sim um aparelho público. É
assim que uma perspectiva democrática concebe as relações entre escola e Estado.
Pois bem, para um país conseguir o tão pretendido desenvolvimento social e
econômico é necessário que invista primeiramente em educação, na qualidade, em todos os
níveis. E que estimule e forneça oportunidades de acesso e permanência aos grupos excluídos
da escola por qualquer motivo que seja, dos demais níveis de educação escolar. Neste
particular, Arroyo, Caldart e Molina (2004a, p. 15)
1442
Um traço aparece com todo destaque: a construção do direito do povo brasileiro do
campo à educação, à letras, ao conhecimento, à cultura universal somente
acontecerá vinculada à construção da pluralidade dos direitos negados. Sobretudo,
vinculada à realidade do primeiro direito: a terra. Que é trabalho, vida e dignidade.
Que é educação.
Do mesmo modo, Não se pode deixar de afirmar, então, que as políticas públicas de
acesso ao ensino, seja ela qual for, são medidas importantes. A finalidade de integrar as
pessoas consideradas em desvantagem socialmente, e os programas oriundos das políticas
educativas, derivam de uma maior e melhor compreensão de que a busca da igualdade
material entre elas não pode ser atingida e mantida somente aplicando as mesmas regras para
todos. Nesta direção Rivero (2000, p. 255) explica sobre o caráter do público e da gratuidade
educacional
Em geral, admite-se que a educação pública seria aquela que convoca todos,
pensando-se no bem-estar pessoal e no bem comum ou coletivo. No caso
educacional, entretanto, o público é identificado, em geral, exclusivamente com o
estatal ou com a capacidade que as escolas, denominadas “públicas”, estejam
abertas a muitas ou a todas as pessoas. Nesta consideração, não se incorporam
aspectos importantes ligados ao sentido do público: a necessidade e possibilidade
de que esses mesmos estabelecimentos educacionais estejam abertos ao debate, à
decisão e à intervenção de um público mais amplo e à conseguinte prestação de
contas à coletividade.
Daí, por fim, conclui-se, para completar porque, por meio de alcances peculiares, que
as circunstâncias particulares de um grupo de minorias, de membros pertencentes a um grande
grupo que é excluído e que afrontam o preconceito, a igualdade aludida tem possibilidade de
tornar-se concreta. Por isso mesmo, é que o elo entre as condições sociais, políticas, culturais,
econômicas são premissas que não podem deixar de ser lembradas para a composição das
políticas públicas e gestão educativas, já que de certa forma caracterizam a consciência da
nação, suas obrigações e notadamente para retificar os desacertos e as deformidades brotadas
injustamente, no decorrer do contexto histórico do Brasil.
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http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2009/anais/pdf/2583_1180.pdf

Um comentário:

  1. É sempre bom saber de incentivo de nossos gestores, para com a humanidade em busca de inovações.sabendo-se então que o crescimento de um país e das pessoas que nele vivem tem passagem primeiramente pela a educação, onde se adquire, sabedorias e melhores condições de vida. "A melhor proposta ao meu ver é investir em melhorias...que tal.

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