quinta-feira, 2 de junho de 2011

ARQUITETURA PARA O ENSINO - ESCOLA PÚBLICA

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Em 2005, o escritório de arquitetura Oficina de Arquitetos aceitou a tarefa de criar uma escola pública especial na cidade de Recife. Trata-se do Centro de Ensino Cícero Dias, unidade piloto do programa Conexão Escola, do Instituto Telemar, um novo modelo de colégio público que utiliza a tecnologia para o aprendizado dos alunos. Diante do desafio, os arquitetos cariocas Gustavo Martins, Ana Paula Polizzo e Marco Milazzo, autores do projeto, optaram por trabalhar a volumetria da edificação de forma que esta refletisse o "novo conceito pedagógico".

Salientes e coloridas, as molduras de concreto de portas e janelas são os destaques da composição arquitetônica. Foi a maneira que os arquitetos encontraram para expor a idéia de que "o saber, a informação e a educação não devem se limitar às quatro paredes de uma sala de aula, mas, sim, romper barreiras físicas e estabelecer a troca entre interior e exterior, entre comunidade e escola". "Na nossa proposta arquitetônica", acrescentam os arquitetos, "portas e janelas participam da gráfica das fachadas como um vírus que se espalha aleatoriamente e toma conta do lugar".

Laboratórios de informática, ciências, vídeo e rádio compõem o rico programa de necessidades, distribuído em cinco blocos retangulares que circundam pátios centrais interligados. A idéia de dispor salas de aula e laboratórios ao redor de pátios visa a aproveitar melhor a ventilação e iluminação naturais. Em alvenaria de blocos cerâmicos, as construções são conectadas por uma cobertura metálica que confere unidade visual ao conjunto, além de definir circulações.

As nove salas de aula são separadas internamente por painéis móveis que, se removidos, permitem a configuração de um espaço único destinado a atividades especiais como, por exemplo, uma feira de ciências. Localizadas no segundo pavimento, as "salas de aprendizagem" se abrem indiretamente para o pátio interno através da circulação que percorre todo o andar. Já os laboratórios, localizados no térreo, se abrem para o pátio interno e para o exterior da escola, que não tem fundos. "Todas as fachadas foram trabalhadas como principais", explica Martins.

A escola divide um quarteirão com o complexo escolar e esportivo Santos Dumont, com o qual se integra espacial e funcionalmente. Uma piscina e campo de futebol fazem a transição entre os estabelecimentos, que estão localizados no privilegiado bairro Boa Viagem, região nobre do Recife. "Apesar de privilegiado, o bairro está situado próximo às comunidades de baixa renda, que serão atendidas pela escola", afirma Martins. O colégio possui dois acessos: um principal, ao norte, para professores e alunos, e outro de serviço, a leste, onde também estão situados estacionamento, docas, casa de bombas, central de gás, cisterna e reservatório de água.
Uma fachada coberta por brises coloridos de alumínio chama a atenção de quem circula na rua Marquês de Valença, por onde ocorre o acesso principal. As réguas metálicas sombreiam a cortina de vidro da biblioteca e sala de informática, que estão voltadas para a ensolarada face norte. As cores do brise e das molduras de concreto das janelas e portas (magenta, turquesa, roxo e verde) foram determinadas pelo escritório (X)Brasil e remetem aos tons da logomarca do programa Conexão Escola, criado pela mesma empresa, uma agência de comunicação voltada para assuntos de cunho público e social.
Garantir o conforto ambiental da construção submetida ao intenso calor de Recife era uma das principais preocupações do trio de arquitetos. Brises e molduras de concreto controlam a entrada dos raios solares no interior da construção. Já os cobogós ou elementos vazados de concreto foram usados no refeitório e nas extremidades das escadas, privilegiando a ventilação e a permeabilidade visual. Martins, Ana Paula e Milazzo defendem a realização de um projeto de paisagismo para o pátio descoberto, visto que as árvores são necessárias para amortecer as altas temperaturas.

Apesar dos cuidados, nem tudo saiu conforme planejado. O projeto previa circulação de ar entre as telhas metálicas e as lajes alveolares de concreto como forma de evitar o aquecimento excessivo da cobertura e, conseqüentemente, das salas de aula. "O vão entre telhas e laje foi fechado com alvenaria, o que impede o fluxo contínuo do ar", explica Martins que havia especificado a colocação de uma tela no local. Hoje, o problema incomoda os alunos e deverá ser reparado brevemente.

Martins também aponta falhas nas molduras de concreto das janelas, que deveriam ter sido executadas como peças únicas para posteriormente serem inseridas na alvenaria, a exemplo das caixas de concreto para ar-condicionado. A construção do elemento em placas, na opinião do arquiteto, dificultou o processo e comprometeu a qualidade do acabamento.

A obra, concluída em março de 2006, durou apenas seis meses. Para atender o prazo exíguo, o projeto buscou a racionalidade construtiva e agilidade da modularidade e de sistemas construtivos ágeis, caso da cobertura metálica. Lajes pré-moldadas e alveolares apóiam-se em pilares de concreto armado, que distam 3,75 m entre si. Apesar dos contratempos da construção, os arquitetos se mostram satisfeitos com o resultado. "Buscamos fazer da proposta arquitetônica um verdadeiro plano de fundo às novas possibilidades de participação comunitária, coerente com a chegada dos novos tempos onde tudo é fluxo e mobilidade", concluem.

MÚLTIPLA ESCOLHA
O escritório Índio da Costa Design foi o responsável pelo projeto de interiores, desenho e especificação do mobiliário, como a carteira escolar que permite a configuração de diferentes layouts na sala de aula. As salas são equipadas para que possam ser informatizadas e possuem projetor que pode ser ligado diretamente a um computador na mesa do professor, ou a computadores nas mesas dos alunos. O auditório localizado no térreo possibilita fácil acesso de visitantes em dias de eventos. Rafaela Macedo, diretora de projetos do escritório, explica que as peças serão instaladas apenas em 2007 porque o Instituto Telemar está à procura de parceiros para sua produção. "Outra inovação são os quadros de lousa branca com duas folhas giratórias, que podem se adaptar aos diferentes layouts da sala", complementa Rafaela. Biblioteca, refeitórios e laboratórios ganharam cores fortes e móveis de contorno circular que estimulam a integração entre os alunos. No pátio interno, um grande banco de madeira curvilíneo permite que os alunos se sentem em diferentes alturas, inclusive que se recostem ou se deitem.


  OFICINA DE ARQUITETOS RECIFE, PE
ARQUITETURA PARA O ENSINO
COM ESQUADRIAS SALIENTES, CORES VIVAS E PÁTIOS INTERNOS, PROJETO DE DE ENSINO INOVADOR BUSCA EXPRESSAR QUE O CONHECIMENTO DEVE ROMPER BARREIRAS FÍSICAS E ESTABELECER A TROCA ENTRE INTERIOR E EXTERIOR, ENTRE COMUNIDADE E ESCOLA

POR VALENTINA FIGUEROLA FOTOS EDUARDO QUEIROGA/LUMIAR