domingo, 17 de abril de 2011

Escola pública: Problemas extrapolam a sala de aula

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Escola pública: Problemas extrapolam a sala de aula
Salas mal iluminadas, banheiros destruídos, quadras sem condições de uso são o retrato das escolas atualizado em 15/03/2011 08:30 mudar tamanho da letra A + | A -
 
Quadra Esportiva

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Em um pedaço de cartolina as palavras de boas vindas. Mais do que isso, as palavras escritas na entrada da escola revelam o desejo de uma escola pública ideal. Em letras bem desenhadas um dos direitos dos alunos: "Ter um lugar na sala de aula" e "Estudar em um ambiente limpo". Na Unidade Escolar Robert Carvalho, bairro Mafrense, zona norte de Teresina, o desejo fica apenas no papel.

Os alunos que estudam no turno da noite na escola precisam chegar cedo para assistir aula, confortavelmente, sentados. Faltam cadeiras para os 437 alunos da escola. "A gente tem que dispensar os alunos ou quem preferir fica em pé, já que não temos outra alternativa", conta a diretora Elizabete de Sousa. Na escola Robert Carvalho, apenas 69 cadeiras foram reaproveitadas do ano de 2010. Segundo informou a diretora, 50 novas cadeiras foram enviadas pela Secretaria Estadual de Educação (Seduc).

"Mas não foram suficientes. Os alunos estão ficando em pé porque não tem cadeira", completa. A reportagem O DIA percorreu algumas das escolas públicas de Teresina da rede estadual de ensino e constatou que a maioria delas não tem arborização, área de lazer e nem para a prática de atividades esportivas.

Durante as visitas foi possível perceber que as salas são mal iluminadas, fechadas, com ventilação deficiente, telhas quebradas, sem forro, com lousas deterioradas, matagal e entulho.

"A visibilidade dentro das salas de aula é ruim. A gente dá aula porque tem que dar mesmo. Tem salas que parecem mais uma prisão. Aqui tivemos que fechar as brechas que as paredes tinham porque os vândalos depredavam a sala pelas aberturas", relata a professora Antonina Santos, da Unidade Escolar Des. Vaz da Costa, do bairro Buenos Aires, zona norte de Teresina.

Na Unidade Escolar José de Anchieta, bairro Três Andares, zona sul de Teresina, são amontoados móveis e carteiras quebradas. A cozinha possui uma infraestrutura inadequada e é muito pequena. Algumas salas estão cheias de infiltrações e mofo nas paredes. O telhado tem goteiras e os alunos sofrem em períodos quentes, pois dependem de ventiladores que mal funcionam.

Já na Unidade Escolar Pedro Conde, no bairro Mocambinho, zona norte da cidade, o teto do pátio continua em obras, mesmo com o início das aulas desde a semana passada. São 730 alunos prejudicados porque, sem essa cobertura, eles ficam expostos ao sol e a chuva. "Recebemos a informação de que o prazo para a conclusão da obra é de três semanas. Ou seja a previsão é que no máximo nos próximos dias a cobertura fique pronta. Por enquanto, os alunos ficam pelos corredores", afirmou a diretora adjunta da escola, Graça Silva.

Na Unidade Escolar Gervásio da Costa, bairro Piçarreira, zona leste, uma fossa estourada tem tirado o sossego de professores e alunos que precisam conviver com o mal cheiro do local. A falta de manutenção já está deixando exposta a ferragem de sustentação das colunas e dos alicerceis. As calçadas do pátio interno necessitam de reforma.

A Unidade Escolar Darcy Araújo, também na zona leste, funciona em tempo integral e possui 270 alunos, mas não tem quadra esportiva nem refeitório. Já na Unidade Escolar José Amável, a direção informou que há a necessidade de uma reforma geral com ampliação de área construída: troca de telhas, piso, armários, quadros, problemas hidráulicos e elétricos.

Quadra deteriorada é comum em quase todas as escolas públicas de Teresina

Os buracos tomam conta do espaço. Os alunos preferem o jogo de bola de gude. A justificativa é simples: "É melhor do que arrancar o dedo nessa quadra". A resposta do estudante Weslley Valadares, 13 anos, é acompanhada de várias reclamações dos alunos da Unidade Escolar Des. Vaz da Costa. "Antes eu gostava da aula de educação física, mas agora não é bom não. O sol é muito quente e a gente se rala todo quando cai aqui", queixa-se o estudante Maycon Da Silva Araújo, 13 anos.



Estudantes trocam futebol por bola de gude (Foto: Raoni Barbosa)



Rede de trave mostra estado de conservação (Foto: Raoni Barbosa)
realizou foi observado que as quadras estão deterioradas e os alunos estão praticamente sem aulas de educação física. "Aula de educação física tem. O professor dá as aulas como pode nessa estrutura", conta o professor Orlando Gonçalves, da escola Des. Vaz da Costa. O professor de Educação Física Danilson Almeida explica que em período de chuva é preciso transferir os alunos para o pátio da escola para que a aula aconteça. "Além disso, a gente procura colocar as aulas em horários que o sol não está muito quente, já que a quadra ou o que sobrou dela não tem cobertura", afirmou.

Nas visitas que:
O DIA

Segundo o professor Orlando Gonçalves, vários ofícios foram encaminhados para a Secretaria Estadual de Educação (Seduc), mas até agora não houve um retorno concreto para a reforma da quadra. "Já vieram aqui quatro engenheiros, mas até agora nada foi feito. Há quase três anos a quadra está neste estado", reclamou.

A situação não se limita a escola, é problema para muitas outras. Na escola Robert Carvalho, os alunos estão sem aulas de educação física. "Não tem condição de colocar os alunos em uma quadra dessas", falou a diretora Elizabete de Sousa. Enquanto isso, os estudantes praticam "esportes" de forma aleatória em espaço com o piso molhado ou expostos ao sol. A precariedade na iluminação da quadra também impede as aulas no período noturno.

Com internet, sem computadores

Na contramão do mundo desenvolvido atual estão escolas públicas que até hoje não têm computadores e jamais puderam organizar um laboratório de informática. Nas escolas públicas estaduais de Teresina, as estatísticas de exclusão digital se reafirmam. Além de não terem acesso a computadores em casa, os alunos permanecem excluídos na escola, espaço que poderia ser de inclusão.

O pior dessa realidade muito comum na rede estadual de ensino é que a constatação de que verba existe, programas governamentais e laboratórios também. Porém falta o principal: os computadores. Em duas escolas o espaço que deveria acontecer as aulas de informática serve apenas para guardar cadeiras quebradas, ventiladores e livros usados.





 Merenda escola é preparada em cantina improvisada sem condições de higiene (Foto: Raoni Barbosa)

Enquanto isso, do lado de fora do laboratório à espera de computadores crianças e jovens permanecem entre os 54,79% de brasileiros que nunca estiveram diante de uma tela e de um teclado eletrônicos. As escolas Robert de Carvalho e Des. Vaz da Costa, por exemplo, empreenderam obras de infraestrutura, à espera de equipamentos que nunca chegaram.

"Temos internet há três anos na escola, mas não tem computadores para os alunos. A sala pronta fica servindo para outras atividades dos professores. Já solicitamos informações da Seduc, mas até agora nada. Não entendemos porque nunca vieram os computadores", afirmou o professor Orlando Gonçalves, responsável pelo laboratório de informática da Unidade Escolar Des. Vaz da Costa.



Biblioteca da Unidade Escolar Robert Carvalho (Foto: Raoni Barbosa)

As aulas, segundo ele, acontecem nas salas de aulas convencionais. "Tem que ficar na teoria. Não tem outro jeito", disse. Já na escola Robert de Carvalho a direção da escola optou em não oferecer a disciplina. Os 437 alunos da escola não têm acesso ao conteúdo de informática pela falta dos computadores. "Toda semana dizem que os computadores estão chegando. Isso faz quase dois anos. A gente limpa a sala e nada chega", ressaltou a diretora Elizabete Sousa.


Programa Mais Educação funciona de forma precária

Por conta da precariedade das escolas estaduais, programas que servem para o funcionamento integral dos estabelecimentos públicos de ensino não atingem seus objetivos. Na prática, o programa Mais Educação sofre com a falta de estrutura das escolas e falta de profissionais competentes nas áreas trabalhadas pelo programa. Em Teresina, por exemplo, há escolas que não possuem salas de aula para executar as atividades e os alunos são obrigados a estudar em pátios e terraços, e quando há salas, algumas das escolas dividem as atividades na mesma.

Dessa forma, os estudantes ficam privados de diversas atividades como acompanhamento pedagógico, meio ambiente, esporte e lazer, direitos humanos, cultura e artes, cultura digital, prevenção e promoção da saúde, educomunicação, e educação econômica. "A nossa grande preocupação é com relação aos alunos mais caren­tes. A nossa clientela aqui da escola é de alunos bem necessitados que encontra no Programa Mais Educação a oportunidade de se alimentar, além de praticar todas as outras atividades oferecidas pelo programa", ressaltou o professor Orlando Gonçalves.

De acordo com a professora Antonina Sousa faltam espaços adequados para o desenvolvimento das atividades do programa, assim como, para o descanso dos alunos entre o turno e outro. "As crianças passam a manhã na sala de aula. Quando chega a hora de ir para casa, elas não vão. Aqui mesmo tomam banho, almoçam, participam dessas atividades oferecidas no Mais Educação, mas não tem um banheiro adequado para tomar um banho ou mesmo repousar um pouco", lamentou.


Sindicato faz levantamento da precariedade das escolas
Se em Teresina a situação não está a mais adequada, nos municípios do interior a realidade é ainda mais complicada. Essa é a constatação do Sindicato dos Servidores da Educação (Sinte) que realiza um estudo detalhado da situação das escolas estaduais. A direção da entidade não descarta a possibilidade de denúncia ao Conselho Estadual de Educação.

Recentemente, os professores da rede estadual de ensino deflagaram um movimento grevista que durou 18 dias. Nas pautas de reivindicações da categoria, a falta de estrutura das escolas tanto na capital como no interior. "As escolas apresentam precariedade de estrutura física e estão sem professores para ministrar aulas. E isso influencia em todo o processo de ensino. Os alunos e os professores não estão em lugares adequados com boa estrutura que ajude na aprendizagem", completou a presidente do Sindicato, professora Odeni de Jesus.

Segundo ela, a reclamação dos professores é geral. "As escolas estão sem estrutura. Faltam cadeiras nas salas, os laboratórios não funcionam, os tetos e muros de várias escolas ameaçam desabar", relatou, acrescentando que o problema foi reconhecido pelo secretário estadual Átila Lira que garantiu que o Estado tomará providências.

"A maioria das escolas possui construções antigas e algumas nunca passaram por reformas", completou a sindicalista. O resultado do levantamento feito pelo Sinte será enviado também para a Secretaria de Educação (Seduc).


Equipe da Seduc faz vistoria semanal nas escolas
A Secretaria Estadual de Educação e Cultura (Seduc) informou que na semana iniciou visitas em várias escolas para detectar possíveis problemas físico-estruturais e de ordem administrativa. No entanto, os técnicos da secretaria já vinham fazendo, aos poucos, essas vistorias com o intuito de detectar carências e necessidades de reformas. E reconhece as dificuldades de estrutura nas escolas.

Conforme informações da Seduc, a idéia é agir de maneira pró ativa, ou seja, preventivamente. "Não vamos mais esperar que algo aconteça para só depois agirmos. Estamos com equipes visitando as escolas e fazendo essas vistorias. Avaliando a situação de cada uma para tomarmos as providências imediatas. Não vamos inventar a roda, vamos colocar o que já temos para funcionar com eficiência e qualidade", garantiu o secretário Átila Lira. Ele acrescentou que as visitas rotineiras nas escolas funcionam como mecanismo para definir as prioridades para intervenções. "As ações devem ser realizadas emergencialmente", avisou. A comissão é composta por engenheiros e técnicos da Secretaria de Planejamento e de Gestão em Ensino.

O diretor das coordenações de Gerências Regionais, Joaquim Navez, afirmou que as equipes se revezam e, in loco, conversam com diretores, professores e alunos sobre as situações das escolas. "Estamos conversando e verificando
todos os problemas detectados, objetivando as suas soluções", explicou.

Já em relação as escolas, Robert de Carvalho e Des. Vaz da Costa, citadas na reportagem, o diretor de engenharia da Seduc, José Raimundo, informou que a Secretaria está atuando em duas frentes: emergencialmente e a longo prazo. "Já fizemos retelheamento, resolvemos problemas de goteiras, em algumas escolas em que isso era emergencial. Quase a maioria das escolas realmente precisam de quadras esportivas mais adequadas e já colocamos isso como prioridade no orçamento", disse. José Raimundo assegurou contudo que no caso da escola Des. Vaz da Costa no máximo até a próxima quinta-feira, dia 17, fará uma intervenção definitiva no local. Porém, até o final da tarde de ontem (14) O DIA não obteve retorno em relação aos laboratórios de informática parados há três anos.



Um comentário:

  1. Não só há problemas em educação pública em uma determinada região, é notório que a precariedade das escolas públicas é geral em todo o Brasil.É um caos a forma em que se encontram as escolas,é preciso minimizar as péssimas qualidade das estruturas já construídas, em se tratando das espacializações para que os alunos tenham, mas atrativos e interesses para os estudos.

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